terça-feira, 13 de julho de 2010

INFLUÊNCIA SOCIAL E CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS DOS NOMES



Pesquisas sugerem que o nome escolhido para um bebê traz impactos para toda a sua vida.
Escolher um nome do bebê é uma tarefa difícil para muitos pais. E, segundo recente pesquisa publicada nos Estados Unidos, eles têm razão de pensar assim. De acordo com o estudo, publicado no site Live Sience, um nome pode ter um impacto profundo sobre a criança e repercutir muito na idade adulta.


"Há uma razão pela qual os livros de nome para bebês são extremamente populares", disse o autor do trabalho, o pesquisador David Figlio, da Northwestern University, em Illinois. "Nós sempre pensamos a respeito da primeira parcela da identidade de uma criança e se nós, como sociedade, prestamos muita atenção aos nomes faz muito sentido que os nomes das pessoas possam influenciar a forma como elas pensam sobre si mesmas e a forma como as pessoas pensam sobre elas", afirmou.


Uma abundância de pesquisas sugere que o nome escolhido para um bebê traz impactos para toda a sua vida. Por exemplo, dar a seu filho menino recém-nascido um nome que soe feminino pode significar problemas de comportamento na vida adulta. E os nomes originais e incomuns que apenas o seu bebê terá pode trazer dificuldades também.


Um estudo britânico realizado com 3 mil pais e publicado em maio afirma que um em cada cinco pais lamenta o nome que escolheu para o seu filho. Na pesquisa, os relatos mostravam que muitos deles, inclusive, estavam angustiados sobre os nomes incomuns ou de grafia estranha que tinham escolhido. E mesmo aqueles que não lamentaram explicitamente a escolha do nome, admitiram haver nomes que preferiam ter escolhido. O estudo foi realizado pelo site Bounty.com, que apresenta a lista dos nomes mais populares da história.


Nomes de meninas
Meninos com nomes tradicionalmente dados às meninas são mais propensos a portar-se mal que seus colegas com nomes masculinos, mostra a pesquisa da Northwestern University. Nas primeiras séries da escola primária, os meninos com nomes como Ashley e Shannon, por exemplo, se comportam como os seus colegas com nomes mais masculinos, como Brian e John. "Quando essas crianças com nomes ligados ao sexo oposto chegam à quarta ou quinta série, de repente, as taxas de problemas disciplinares sobem como um foguete. Isso piora muito no caso de ter uma menina na classe com o mesmo nome", afirmou Figlio.


Imagine-se, disse Figlio, sendo um garoto e tendo de ficar cara a cara todos os dias com uma menina na sua sala de aula com o mesmo nome que você. Você não ficaria confortável. Essa sensação já indica que os sentimentos de autoconsciência nesse caso, que talvez sejam ampliados por provocação de terceiros, desempenham um forte papel no comportamento.


Nomes de menino em garotas também têm efeitos. Em um estudo de 2005, Figlio analisou nomes e seus fonemas e descobriu a probabilidade de pertencerem a uma menina. Por exemplo, os nomes Kayla e Isabella eram tão femininos fonemicamente que sua probabilidade de pertencerem a uma menina eram de 100%. No outro extremo do espectro, Taylor, Madison e Alexis foram foneticamente previstos para ter duas vezes mais probabilidades de pertencer a meninos do que a meninas. "Nos resultados de análises em turmas universitárias, encontrei mais garotas com nomes que são mais femininos que haviam escolhido cursos avançados em ciências humanas. E que garotas com nomes menos femininos são mais propensas a escolher cursos de matemática e exatas", disse Figlio.


Mas o pesquisador ressalta que são dados estatísticos e que isso não confirma por si só que um cause o outro. Segundo ele, uma explicação poderia ser que, na infância, os pais tratassem uma filha chamada Morgan diferentemente de sua irmã Elizabeth, cujo nome é muito mais feminino. "Será que os pais sabem quando escolhem o nome que ele pode até moldar seu comportamento em relação a sua filha?" pergunta Figlio.


Status socioeconômico e expectativas
Assim como o sotaque de uma pessoa ou a roupa podem indicar alguma coisa sobre o contexto ou caráter individual, o nome também pode carregar significados. E, assim como qualquer outro indicador externo, os nomes podem mentir.


Figlio recolheu nomes de milhões de certidões de nascimento e, em seguida, quebrou cada nome em mais de mil componentes fonêmicos. Ele analisou os nomes por combinações de letras, complexidade e outros fatores e depois utilizou uma análise estatística para descobrir a probabilidade de que o nome pertencesse a alguém de baixo nível socioeconômico.


"Crianças que têm nomes que - a partir de uma perspectiva linguística - são mais comuns de ser dados por pais com baixa escolaridade acabaram sendo tratadas de forma diferente", disse Figlio. "Eles, estatisticamente, vão pior na escola e são menos propensos a ser recomendados para classes se superdotados e maior probabilidade de serem classificados como incapazes de aprender."


Reunião baixas expectativas
A ligação entre um nome e o sucesso do indivíduo mais tarde na vida podem ter relação com estas miudezas satisfazendo as expectativas dos outros sobre eles. Nomes que soam como vindos de uma família de baixo nível socioeconômico podem ser simplesmente 'lidos' socialmente como menos capazes de alcançar sucesso, por exemplo.


"As pessoas tiram sugestões do subconsciente o tempo todo sobre as pessoas. Você conhece uma pessoa, a vê pela primeira vez, e - sem pensar em um nível consciente - você está olhando para a maneira como ela está andando, como soa o sotaque dela, como ela está vestida, o cheiro ... e você está desenvolvendo essas reações e conclusões imediatas", disse Figlio. Ele acrescentou: "Eu penso que há provavelmente uma razão evolucionária por trás disso. Nós trabalhamos duro para tentar descobrirem um piscar de olhos se queremos ou não confiar em alguém ou se queremos fugir de alguém."


Hoje, Figlio disse imaginar um professor no primeiro dia de aula olhando para os seus alunos e tentando descobrir o que esperar de cada criança. Muitos professores questionados disseram a Figlio que têm que se policiar para não tirar conclusões precipitadas sobre os alunos. " Vejo esse nome... eu acho que talvez ele não tem os pais ativos", dizem. E assim a história continua, pois, segundo o pesquisador, os estudos têm mostrado que as crianças normalmente atendem às expectativas sociais sobre elas.


Autoestima
Mas mesmo que seu nome soe como pertencente a classes altas, isso não vai importar se você não gostar dele. A pesquisa mostrou uma forte ligação entre uma pessoa gostar ou não gostar de seu nome com alta ou baixa autoestima, respectivamente.


"A relação é tão forte que quando as pessoas querem medir a autoestima de uma forma mais sutil podem fazê-lo com a tarefa de carta-nome", disse Jean Twenge, pesquisador da San Diego State University, nos Estados Unidos, referindo-se a um método no qual os sujeitos relatam se gostam ou não de letras diferentes do alfabeto. Aqueles com alta autoestima geralmente gostam das letras que estão em seus nomes, especialmente a primeira letra, disse ela. Faz sentido se você pensar sobre o quanto de uma pessoa é o seu nome.


"Nossos nomes estão realmente envolvidos em nossa identidade", afirmou a pesquisadora. "As pessoas que não gostam dos seus nomes e também as que acreditam que outras pessoas pensam que é um nome estranho e antipático, tendem a não ser bem ajustadas", afirma.


Insólitos versus nomes comuns
Quando é hora de escolher o nome do bebê, existem dois tipos de pais: aqueles que querem um nome incomum e aqueles que preferem um nome mais comum usado por muitas crianças.


A diferença entre escolher um entre cinco nomes comuns relativamente simpáticos é pequena em termos de qualquer impacto sobre a vida da criança. "Se você está escolhendo entre um nome relativamente agradável, nome comum e que é realmente estranho, essa escolha definitivamente pode ter um impacto", disse Twenge.


O nome pode ser um reflexo do estilo de vida dos pais. "O pai que diz: eu quero meu filho seja único e se destaque, e dá à sua criança um nome incomum, provavelmente terá um estilo parental que enfatiza a singularidade e o destaque". Ela acrescentou: "O tipo de pai que iria dar um nome bem incomum é muitas vezes o que tem um comportamento bem diferente do que diz - eu quero dar a meu filho um nome que faça ele se sentir aceito" , afirma.


Livros de aconselhamento e blogs sobre nomes de bebês muitas vezes sugerem mudar a ortografia comum do nome, a fim de acrescentar alguma diferença nele. Os resultados preliminares do trabalho de Figlio sugerem que isso pode não ser uma boa ideia. Crianças com nomes comuns com ortografia desviante tende a ter abrandadas as capacidades de ortografia e leitura.


"Isso sugere muito sobre a interiorização das reações sociais ao nome", disse Figlio. "Você tem um filho chamado Jennifer escrito com um 'G' e a professora diz: 'tem certeza de que seu nome é escrito desta maneira?" Isso pode ser extremamente difícil para a confiança de uma pessoa".


Tudo isso os pais acabam por perceber mais tarde, como mostra o estudo do site Bounty. Segundo o site, um quinto dos pais britânicos participantes do estudo desejavam ter escolhido um nome mais fácil de soletrar e um em cada 10 pensou que o nome escolhido foi inteligente no momento, mas disse que a novidade tinha se desgastado depois.

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