sexta-feira, 30 de abril de 2010

Guerreiros da Luz - Paulo Coelho

Responsabilidade e risco


A raiz latina da palavra "responsabilidade" desvenda o seu significado: capacidade de responder, de reagir.


Um guerreiro responsável foi capaz de observar e treinar. Foi, inclusive, capaz de ser "irresponsável": às vezes deixou-se levar pela situação, e não reagiu.


Mas aprendeu as lições; tomou uma atitude, ouviu um conselho, teve a humildade de aceitar ajuda.


Um guerreiro responsável não é o que coloca sobre seus ombros o peso do mundo; é aquele que consegue lidar com os desafios do momento presente.


Evidente que às vezes fica apavorado diante de decisões importantes.


"Isto é grande demais para você, diz um amigo.


"Vá em frente, tenha coragem", diz outro.


E suas dúvidas aumentam.


Depois de alguns dias de angústia, ele recolhe-se ao canto de sua tenda, onde costuma sentar-se para meditar e orar. Vê a si mesmo no futuro. Vê as pessoas que serão beneficiadas e prejudicadas por sua atitude. Ele não quer causar sofrimentos inúteis, mas tampouco quer abandonar o caminho.


O guerreiro então deixa que a decisão se manifeste. Se for preciso dizer sim, ele dirá com coragem. Se for preciso dizer não, ele dirá sem covardia. Quando o guerreiro assume uma responsabilidade, mantém sua palavra.


Os que prometem e não cumprem, perdem o respeito próprio, tem vergonha de seus atos. A vida destas pessoas consiste em fugir. Gastam muito mais energia desonrando a palavra, que o guerreiro da luz usa para manter seus compromissos.


Às vezes também ele assume uma responsabilidade boba, que resultará em prejuízo. Não torna a repetir esta atitude - mas, mesmo assim, honra sua palavra e paga o preço de sua impulsividade.


Claro que termina por escutar opiniões desfavoráveis. Mas, antes de dar ouvidos a qualquer coisa, procura sempre informar-se se quem dá estas opiniões já realizou um trabalho melhor que o seu. Geralmente, quem critica nunca viveu seu próprio sonho; apenas os vencedores são tolerantes e generosos.


Por que criticam?


Porque, a cada passo que o guerreiro dá adiante, esta pessoa ficou um passo atrás. Para ela, é duro aceitar que ele está atingindo tudo que ela julgou inatingível.


Isso não quer dizer que dê passos errados: vai errar muitas vezes, e não tem importância. Errar faz parte do caminho, corrigir o erro faz parte de sua responsabilidade.


Para errar menos, o guerreiro descansa de vez em quando, e se alegra com as coisas simples da vida. Sabe que as cordas que estão sempre tensas, terminam desafinando. Os cavalos que não param de saltar obstáculos, terminam quebrando a perna. Os arcos que são curvados todos os dias, já não atiram suas flechas com a mesma força.


Do arrependimento sincero


O monge Chu Lai era agredido por um professor, que não acreditava em nada do que ele dizia. Entretanto, a mulher do professor era seguidora de Chu Lai - e exigiu que seu marido fosse pedir desculpas ao sábio.


Contrariado, mas sem coragem de contrariar a mulher, o homem foi até o templo e murmurou algumas palavras de arrependimento.


- Eu não o perdôo - disse Chu Lai. - Volte ao trabalho".


A mulher ficou horrorizada:


- Meu marido se humilhou, e o senhor - que se diz sábio - não foi generoso!


Respondeu Chu Lai:


- Dentro de minha alma não existe nenhum rancor. Mas, se ele não está arrependido, é melhor reconhecer que tem raiva de mim. Se eu tivesse aceito seu perdão, íamos estar criando uma falsa situação de harmonia - e isto aumentaria ainda mais a raiva de seu marido.


Mudando a atitude


- Pelo período de um ano, pague uma moeda quem lhe agredir - disse o abade a um jovem que queria seguir o caminho espiritual.


Nos doze meses seguintes, o rapaz pagava uma moeda sempre que era agredido. No final do ano, voltou ao abade, para saber o próximo passo.


- Vá até a cidade comprar comida para mim.


Assim que o rapaz saiu, o abade disfarçou-se de mendigo e foi até a porta da cidade. Quando o rapaz se aproximou, começou a insultá-lo.


- Que bom! - comentou o rapaz. - Durante um ano inteiro tive que pagar, e agora posso ser agredido de graça, sem gastar nada!


Ouvindo isto, o abade retirou seu disfarce.


- Quem não leva os insultos a sério, está no caminho da sabedoria.


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